terça-feira, 7 de julho de 2009

SEU JOÃOZINHO DO PHAROL


Meu avô nasceu em um 11 de julho. Foi uma pessoa digna, íntegra. Deu sua colaboração na comunidade onde viveu. Fez do sonho do menino Joãozinho, a realidade do Jornalista João Ferreira Gomes. Dou valor a quem luta por seus ideais e não se desvirtua na caminhada. Vovô foi assim: Um bravo que lutou com poucas armas e saiu vitorioso. Não saiu rico, porque riqueza material não fazia parte de sua meta. Mas era um homem farto, generoso, caridoso, altruísta, equilibrado, comedido, atencioso, honesto, paciente, amigo.

Minhas lembranças de vovô são doces. Sou sua primeira neta e cresci órfã de pai. Meu vô foi meu pai, mas mesmo assim, nunca levantou a voz pra mim. Lembro-me de três situações que ele poderia ter me punido de alguma forma, das quais segue relato de duas:

I) A primeira vez que inventei de depilar minhas pernas foi com o aparelho de barbear dele. Peguei escondido, à tarde, depois do colégio. Na minha santa ingenuidade, eu pensei que esse “malfeito” fosse passar despercebido. Mas qual foi minha surpresa e desolação quando, no dia seguinte, logo cedinho ele me olhou tranquilo, como sempre e disse: Você está diferente hoje! O que voce fez? Respondi, 'fiz nada não' e e ele insistiu: "Suas pernas estão mais brancas." Meu Deus! Pensei que eu ia morrer de vergonha! Sim porque apesar da pouca idade, eu sempre fui do tipo que não gosta de ter os erros apontados por ninguém. Dou logo a mão à palmatória. E nesse dia, eu vacilei. Quase mentindo pro meu avô! Demorei pra tirar esse episódio da cabeça e, na verdade nunca tirei. Hoje tenho certeza que depilar as pernas com 13 anos não corresponde a nenhum pecado mortal e o que o me consumiu mesmo foi o “furto de uso” do aparelho de barbear dele.

II) O estabelecimento comercial de vovô era constituído de livraria, papelaria, tipografia, jornal. Ele também era distribuidor de revistas para as bancas da cidade. Eu saía do colégio e ia direto pra lá. Sentava atrás do expositor de revistas e esquecia do mundo (tempo bom!)... Um dia ele me flagrou lendo fotonovela (registro de somenos importancia: sou do tempo de fotonovelas rsrs) Sereno, foi na vitrine de livros, pegou Inocência de Visconde de Taunay e me entregou dizendo: "Tome. Essa é que é a leitura para você." Novamente o frio acusador de conduta reprovável atingiu o meu plexo solar.

Era sábio. "Mais vale a suavidade com que repreendes do que a severidade com que castigas". Aprendi muito com Seu Joãozinho. Um dos ensinamentos que ainda pratico é cumprimentar as pessoas que cruzam comigo. É ato simples, mas que gera uma felicidade ímpar! Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Era marca registrada dele. Ia a pé, de casa pro trabalho e voltava do trabalho pra casa, cumprimentando a todos que encontrava. Em 2001, fiz um poema em sua homenagem, demarcando as fases de sua vida me utilizando do Bom dia – para a infância, Boa tarde – para a juventude e Boa noite – para a velhice. Reconheço que a métrica está horripilante mas já tentei mexer e não consigo (mexer nele agora seria fazer uma poemoplastia). Segue:

Joãozinho

Bom dia Joãozinho!
Que nasceu João,
Numa cidade menina
No interior do sertão
Chamada Petrolina
Onde você vai crescer,
Amando-a até morrer

Joãozinho, Bom dia!
Agora vá trabalhar
Naquilo que sempre
Gostou de brincar
Fazer jornalzinho
E com nome " O Pharol "
Ele irá circular

Boa tarde, Seu Joãozinho!
Como vai indo o jornal?
O progresso está vindo,
Até aí nada mal
Mas cuidado meu rapaz,
Não vá se empolgar demais
Nem tampouco se iludir
E desviar seu ideal

Pois em tudo há tropeços,
Quedas e recomeços
Cuide bem da família,
Ajude a quem precisar
Com ênfase pros que não podem
Mas gostam de estudar
Amável seja com todos
E a todos deve saudar

Bom dia, Boa tarde, Boa noite
Sua marca sempre será
De paletó e gravata
No sol quente de escaldar

Boa noite, Seu João
Agora vá descansar
O sol se pôs prometendo
Pra muitos voltar a brilhar
As aves nos ninhos repousam
Pra na aurora cantar
No cais o gaiola dança
Com movimento das águas
Suavemente balança

Descanse seu João!
Se dê por feliz
Você cumpriu sua missão
Quando tantos pela vida
Passam sem opinião
Sem motivo, sem sentido
Em peregrinação

Você conseguiu!
Os tropeços vieram
E você não caiu
Amanhã sempre é um novo dia
Com tudo igual novamente
Muita gente nascendo,
Morrendo muita gente

Que da sua história a moral
Não seja tão comovente
Mas fique sempre na mente:
Felicidade plena só sente
Quem vive honestamente.


3 comentários:

sol-brasil disse...

LOUVAVEL SUA HOMENAGEM AO ILUSTRE SR. "JOÃOZINHO DO PHAROL" FIGURA IMPAR E QUERIDA....MUITAS LEMBRANÇAS VOAM E CAEM NO MAIS PROFUNDO LUGAR DAS RECORDAÇÕES!
A POESIA FALA MUITO MAIS QUE O CORAÇÃO..PARABÉNS!

Unknown disse...

Oi Fátima, saudades de Tio Joãozinho. Sempre bom ler algo sobre ele. Estou amando s Blog! Beijão!

Unknown disse...

ô Fafá me emocionei.me deu tantas saudades,lembranças,o tempo que vivia lá na casa dele.
beijos.